O ataque Doolittle (Doolittle Raid), foi o lançamento de um bombardeamento a partir da costa japonesa a 18 de Abril de 1942. O ataque — com o objectivo de servir de propaganda e resposta ao o ataque a Pearl Harbor — foi planejado pelo Tenente-Coronel James Harold Doolittle, e foi possível graças ao técnico de observação, o Capitão Francis Low, que afirmou que aviões de 2 motores podiam ser lançados de porta-aviões. Testes subsequentes provaram que um B-25 Mitchell podia ser lançado com uma carga de bombas razoável, atingir alvos no Japão e depois aterrar na China.
O ataque
Dezesseis B-25 americanos foram carregados no USS Hornet, com 230 kg de bombas e extra tanques de combustível mas com armas de defesa reduzidas. Os aviões foram postos no convés de descolagem na ordem de lançamento e verificados. O USS Hornet deixou o porto a 2 de Abril e juntou-se ao USS Enterprise no oceano Pacífico. Os dois porta-aviões, juntamente com uma frota de 14º navios de escolta, partiram para a zona de lançamento.
Contudo, os bombardeiros foram lançados enquanto ainda a 800 milhas da costa do Japão ao invés das desejadas 450 a 650 milhas. A frota avistou um barco de patrulha Japonês. Embora o barco de patrulha tenha sido afundado por fogo de artilharia americano, foi decidido lançar os aviões, para o caso em que o barco de patrulha tivesse alertado por rádio o Japão. Todos os B-25s chegaram à costa japonesa, largaram as suas bombas em zonas de armazeanamento de petróleo, fábricas e instalações militares em Tóquio e Nagoya, e dirigiram-se para leste do mar da China.
Os bombardeiros, no entanto, ao chegarem começaram a ficar com pouco combustível, e o tempo começou a piorar rapidamente. As tripulações se deram conta que não conseguiriam chegar às bases aéreas chinesas e tiveram a opção ou de saltar dos aviões para o mar ou de fazer uma aterragem forçada em terra. Um avião aterrou em Vladivostok, onde a sua tripulação acabou sendo detida pelos soviéticos juntamente com o avião, já que a União Soviética tinha acordos de não agressão com o Japão e suas relações diplomáticas eram neutras.
Em comparação com os ataques dos B-29 contra o Japão, dois anos depois, o ataque foi um esforço simbólico. Quando as notícias do ataque foram publicadas, o moral americano subiu muito, após a descida devido ao ataque japonês. O ataque obrigou aos japoneses a transferência para as ilhas do Japão de unidades de caças que poderiam ter sido usadas contra os Aliados, e usadas na tentativa de destruir a armada americana na Batalha de Midway.
Consequências
Após o ataque a Tóquio, as tripulações de dois aviões estavam desaparecidas. A 15 de Agosto de 1942, soube-se pelo General suíço do consulado em Shanghai que 8 pilotos americanos eram prisioneiros na sede da policia japonesa, nessa mesma cidade. Em 19 de Outubro de 1942 os japoneses transmitiram que tinham julgado as duas tripulações e que as tinham condenado à morte, mas que um número deles tinha recebido comutação das suas sentenças para aprisionamento, e que um pequeno número tinha sido executado. Quaisquer nomes ou factos não foram dados.
Após a guerra, os factos foram descobertos no Julgamento de Crimes de Guerra em Shanghai, que abriu a Fevereiro de 1946, para julgar 4 oficiais japoneses que maltrataram 8 prisioneiros de guerra do ataque a Tóquio. Dois dos 10 homens, Dieter e Fitzmaurice, morreram quando seu B-25 caiu na costa chinesa. Os outros 8, Hallmark, Meder, Nielsen, Farrow, Hite, Barr, Spatz, e DeShazer foram capturados. Além de terem sido torturados, contraíram doenças devido às más condições sob as quais estavam presos.
A 28 de Agosto de 1942, Hallmark, Farrow e Spatz foram julgados por oficiais japoneses. Em 14 de Outubro de 1942, Hallmark, Farrow e Spatz foram avisados que seriam executados no dia seguinte.
Às 16h30 min de 15 de Outubro de 1942, os três americanos foram levados num caminhão até um cemitério público fora de Shanghai. Após procedimentos cerimoniais apropriados dos militares japoneses, foram fuzilados.
Os outros cinco continuaram presos, mas a sua saúde começou rapidamente a se deteriorar. Em Abril de 1943, foram movidos para Nanking e em 1 de Dezembro de 1943, Meder faleceu. Os outros cinco homens começaram a receber um melhor tratamento e para o seu conforto receberam um cópia da Bíblia. Sobreviveram até Agosto 1945, quando foram libertados.
Os 4 oficiais japoneses foram julgados pelos seus crimes de guerra contra os 4 tripulantes do ataque de Tóquio e todos foram considerados culpados. Três foram sentenciados a 5 anos de trabalhos forçados e o 4º a 9 anos de sentença.
Nos 3 meses após o ataque, os japoneses conduziram uma busca pelos pilotos que tinham escapado para a área de Chekiang. Aproximadamente 23000 chineses foram massacrados em retaliação por ajudarem a esconder os pilotos americanos.
Em Novembro de 1944, o Japão começou a lançar cerca de 9000 balões bomba, como retaliação ao bombardeamento.
O ataque foi recriado nos filmes Trinta Segundos sobre Tóquio (1944) e Pearl Harbor (2001).
James Doolittle
James Harold "Jimmy" Doolittle (Alameda, 14 de dezembro de 1896 — Pebble Beach, 27 de setembro de 1993) foi um pioneiro da aviação e general da Força Aérea dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial, comandante do histórico Ataque Doolittle, o primeiro bombardeamento a Tóquio na guerra, em Abril de 1942, pelo qual foi condecorado com a Medalha de Honra, a mais alta e rara condecoração militar dos Estados Unidos.
Californiano de nascimento que passou a juventude no Alaska, onde conseguiu reputação como jovem boxeur, Doolittle cursou a Universidade de Berkeley, que abandonou para se alistar como cadete voador na reserva do Corpo de Sinaleiros dos Estados Unidos, em 1917, durante a I Guerra Mundial, e trabalhou como caixeiro viajante para ajudar nas despesas.
Em 1918, após treinamento na Escola Militar da Aeronáutica da Universidade da Califórnia (UCLA) ele foi integrado, como segundo-tenente, ao grupo de aviadores do Corpo de Sinaleiros, tornando-se instrutor de vôo durante a guerra. Após o conflito, retornou a Berkeley, onde formou-se com o grau de bacharel em Artes.
No período entre-guerras, ‘Jimmy’ Doolittle veio a se tornar um dos mais famosos pilotos americanos, fazendo um voo pioneiro costa a costa dos Estados Unidos em 1922, da Flórida até San Diego, na Califórnia, e realizando vários voos de demonstração e testes nos Estados Unidos e na América do Sul, onde, num acidente, quebrou os dois tornozelos no Chile. Sua maior contribuição à Aeronáutica, porém, veio através do desenvolvimento de equipamentos de voo. Em 1929, foi o primeiro aviador a fazer um voo solo baseado apenas em instrumentos, sem visão do que ocorria fora da cabine, levantando voo, voando por alguns minutos e aterrissando em seguida. Desenvolveu, também, dois dos mais precisos e úteis instrumentos de navegação aérea, hoje comuns, o horizonte artificial e o giroscópio direcional, atraindo a atenção mundial ao realizar o primeiro ‘voo cego’ completo.
Nos anos 1930, quebrou o recorde de velocidade em aviões e conquistou vitórias em importantes e populares corridas aéreas em seu país. Em 1940, com a patente de major, foi enviado à Inglaterra como membro de um missão especial da aeronáutica, trazendo de volta novas informações sobre o avanço da tecnologia aérea em outros países e sobre a composição de diversas forças aéreas europeias.
Segunda Guerra Mundial
Promovido a tenente-coronel em janeiro de 1942, Doolittle foi ao quartel-general da Força Aérea planejar o que seria o primeiro e histórico ataque aéreo norte-americano ao Japão, num momento da guerra em que as vitórias e a iniciativa ainda eram todas japonesas.
O coronel Doolittle, no convés do USS Hornet, prega uma medalha numa bomba a ser lançada sobre o Japão.
Partindo de um porta-aviões no meio do Pacífico, o USS Hornet, dezesseis bombardeiros norte-americanos B-25, deveriam bombardear as cidades de Tóquio, Kobe, Osaka e Nagoia, como uma resposta ao ataque a Pearl Harbor, acontecido meses antes, dando um grande golpe moral ao inimigo, mostrando que seu território não estava livre de ataques. A missão, conhecida como Ataque Doolittle, tinha o alto risco de fazer decolar grandes bombardeiros do pequeno convés de um porta-aviões - algo nunca tentado antes - e que após os bombardeios, na impossibilidade de voltar por falta de combustível, deveriam tentar pousar na China, país então aliado dos EUA, invadido e em guerra com o Japão, ou se não conseguissem, cair no mar, sem esperança de resgate.
Doolittle apresentou-se como voluntário e pessoalmente treinou e liderou os tripulantes – todos também voluntários – da missão, conseguindo pousar seu avião num campo chinês, onde foi ajudado por guerrilheiros locais e missionários ocidentais, sendo escondido junto com a tripulação de seu avião até poder voltar aos Estados Unidos, onde, pelo planejamento e liderança da missão considerada quase impossível, recebeu a Medalha de Honra do Congresso das mãos do Presidente Franklin Roosevelt.
De volta à pátria e promovido da brigadeiro-general, Doolittle passou os próximos dois anos da II Guerra Mundial em comandos no norte da África e no Mediterrâneo. De 1944 a 1945, como major-general, assumiu seu maior comando, a 8ª Força Aérea dos Estados Unidos, baseada na Inglaterra, de grande atuação no teatro europeu da guerra. Transferida para Okinawa após o final da guerra na Europa, a 8ª Força se preparava para participar da invasão do Japão quando as bombas de Hiroshima e Nagasaki encerram o conflito mundial.
Pós-guerra
Doolittle passou à reserva inativa em 1946 – de onde tinha vindo antes da II Guerra Mundial - e assumiu um posto de direção na vida civil, na Shell, como vice-presidente da empresa. Em 1951, como reservista da Aeronáutica, assumiu o cargo de assistente técnico do chefe de estado maior da força aérea, colaborando no desenvolvimento científico de mísseis e tecnologia de uso futuro no programa espacial americano.
Em 4 de abril de 1985, o Congresso dos Estados Unidos promoveu honorariamente Doolittle a general de quatro estrelas da reserva da Aeronáutica, tendo sua nova estrela no uniforme sido colocada pelas mãos do Presidente Ronald Reagan.
Casado desde 1917 e pai de dois filhos, dois pilotos que combateram na II Guerra – um deles suicidou-se em 1958 – herói nacional condecorado por mais de cinco países diferentes, James Doolittle morreu na Califórnia em 1993, sendo enterrado no Cemitério Nacional de Arlington, em Washington, ao lado da esposa e de grandes personagens da história militar e civil dos Estados Unidos. Durante seu funeral, aviões B-25 remanescentes da II Guerra, iguais ao usados no Ataque Doolittle, fizeram voos rasantes sobre o cemitério, junto a caças supersônicos da 8ª Força Aérea, comandada por ele nos últimos anos da guerra.
Curiosidades
James Doolittle foi representado no cinema em dois filmes e por dois atores diferentes. Em 1944, Spencer Tracy fez o seu papel em Trinta Segundos sobre Tóquio, o filme que conta a história do Ataque Doolittle pela primeira vez, ainda durante a guerra. Em 2001, ele foi personificado por Alec Baldwin, em Pearl Harbor, que incluiu o raid norte-americano a Tóquio no filme sobre o ataque japonês a Pearl Harbor.
Clique aqui para ler (em inglês) o relatório completo do ataque.